A Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos pertence à Comunidade Quilombola de Ivaporunduva, localizada às margens do Rio Ribeira do Iguape, na zona rural do município paulista de Eldorado. Datada do século XVIII, a Capela construída em adobe e pedra canjicada, foi tombada pelo Condephaat em junho de 1979 por seu valor histórico e cultural.
A ermida marca a bela paisagem ribeirinha de Ivaporonduva e é utilizada pelos moradores do Quilombo, servindo de referência identitária, social e cultural. Além da missa mensal, são realizados casamentos e batizados, encontros e festas diversas da comunidade.
Esse importante bem cultural é mantido pela própria comunidade. A limpeza é realizada semanalmente por grupos previamente organizados. Apesar de todo o zelo, a Capela necessitava de intervenções urgentes.
Cobertura e instalações elétricas apresentavam situação alarmante e colocavam em risco integridade do bem. Pisos, forros, esquadrias e demais instalações prediais demandavam intervenções para requalificar o espaço. E o entorno do bem não corroborava com sua valorização uma vez que a iluminação era precária e os equipamentos urbanos encontravam-se em estado precário.
O projeto desenvolveu-se respeitando a premissa da mínima intervenção necessária para devolver o espaço com qualidade e segurança adequadas ao uso da comunidade.
Toda a cobertura foi revisada, tanto manto quanto estrutura. As paredes de adobe apresentavam pontos de avançada deterioração. A reintengração aconteceu com materiais de mesma natureza e traços de argamassa compatíveis aos encontrados no local.
As esquadrias de madeira também foram restauradas em oficina montada na própria Capela, assim como o forro. A escada do coro estava desprovida de guarda corpo que foi reproduzido de acordo com o existente no mezanino. A mesma conduta foi adotada para a cancela do altar.
A maior intervenção foi o novo piso executado. Até a década de 1970, o interior da Capela era de chão batido quando foi coberta de cimento. Este simples cimentado foi precariamente mantido ao longo dos anos. A substituição proposta utilizou tijolos maciços em uma paginação integrada ao cimento queimado, criando requadros distribuídos simetricamente na nave. O tom dos tijolos lembra a terra batida, presente na memória coletiva e os requadros fazem referência a campas, tão tradicionais nos espaços sacros católicos do período colonial.
O projeto foi uma grande oportunidade para documentar o bem edificado preservado. Além das fotografias e descrições textuais, a representação gráfica contemplou técnicas de manufatura empregadas.
A obra foi entregue em outubro de 2022 e a comunidade retomou com entusiasmo as atividades rotineiras e celebrações. Além do restabelecimento da arquitetura, iluminação interna e externa foram requalificadas para garantir a retomada da apropriação com todo o seu potencial.