O edifício Copan – um dos prédios mais famosos do país e ícone da produção de Oscar Niemeyer – vai receber a nova sede do Grupo Enjoei, empresa que nasceu na internet há 15 anos conectando pessoas para compra e venda de produtos online.
A sede vai ocupar 2.000 m² no terraço do edifício, situado na laje de transição entre o embasamento comercial e de serviços e a torre de apartamentos. Originalmente, o terraço foi idealizado pelo arquiteto como um jardim elevado, um piso que seria continuidade da rua, sem fechamentos laterais, com bancos, jardins e até uma floricultura.
Pesquisar e entender o histórico do Copan, vislumbrar o centro de São Paulo como potência para um futuro mais diverso e democrático e, ao mesmo tempo, afirmar o forte desejo do Enjoei de se conectar com a história e a diversidade urbana ao migrar para a região central foram constatações que fundamentaram nosso conceito de projeto para esse espaço.
Atrelamos camadas de realidade, desejo, poesia, cidade, somado ao extenso programa do novo escritório, sem perder de vista a busca por espontaneidade no desenho dentro de um espaço tão sólido e definido.
A forte relação com a rua e com a cidade, o ritmo dos grandes pilares que trazem profundidade e movimento na percepção espacial, a vibração da curva da esquina como ponto de encontro, a varanda como área permeável de visuais e respiro: tudo isso foi pauta de investigação de linguagens para a nova ocupação.
Assumimos que a varanda é rua e é ela que conduz o acesso à entrada principal do escritório, no ponto central e de menor raio no traçado da curva: ao entrar, você enxerga o espaço em toda a sua monumentalidade.
Um acesso secundário se dá à direita da planta, próxima ao elevador. A ideia aqui foi criar uma rua interna e proporcionar tensões ao entrar no espaço. Nesse acesso a percepção se dá em movimento, ritmado pelos grandes pilares internos e um espaço que vai se mostrando aos poucos.
Definidas as duas ruas – a varanda externa e a passarela interna – temos a grande área entre elas, que se localiza entre o perímetro da fachada de vidro e os grandes pilares, e é aí que todo o ecossistema para os colaboradores acontece: próximo à luz natural, com relação e contato direto com as “ruas”.
Três salas-cápsulas rompem a extensão desse espaço sem interrompê-lo e manejam a distribuição das mesas de trabalho. Importante dizer que as novas salas fechadas são em drywall com aberturas especiais e soltas do teto. Não fazia sentido pensar em novas salas em vidro já que toda a nossa fachada tem transparência. Com essa decisão, reduzimos custo, melhoramos a solução acústica e, principalmente, trazemos uma escala mais íntima na ocupação dos espaços.
Os grandes pilares existentes na parte interna (cada um deles tem mais de 2m² de área de seção) terão o acabamento em pintura branca mantido. Descascá-los para chegar no concreto seria uma solução cara, demorada e com resultado visual menos vibrante. Listras em cor e faixas de espelho com paginação específica trazem o frescor e ativam o ritmo que buscamos no projeto. Três destes pilares terão sua base alargada para conformação de bancos e serão revestidos em tecido reciclado para serem identificados como ponto de trabalho e reuniões informais.
Definido o uso nessa grande área entre pilares, organizamos a parte posterior do espaço. Com os limites de fundo irregular e nenhuma iluminação natural, trouxemos para o alinhamento da rua interna salas fechadas, brancas e soltas do teto, como forma de organizar esse plano de fundo, numa reinterpretação das galerias do térreo do edifício.
A galeria conduz o percurso da rua interna, com elementos construtivos que se repetem, trazendo legibilidade e organizando o olhar. E esse caminho culmina na esquina curva onde acontece o ponto de encontro, de troca de conhecimento, delimitando a sala do conselho, o piano e a cozinha que se abre para a varanda fechando o ciclo nesse fluxo de vivência do espaço.
A predominância do branco na base do desenho – pilares internos, teto, infraestrutura, cápsulas, marcenaria – prepara o ambiente desejado: flutuante, aberto ao novo e com o olhar para o futuro. Recuperar e manter o contrapiso existente garantiu a economia em uma grande área de revestimentos além do que criamos um contraponto entre a rusticidade do piso cinza e a maciez dos tapetes das salas fechadas, desenhados exclusivamente para o projeto. O aço galvanizado bruto no volume do café e cabines de reunião individual apoiam a rusticidade do piso e evidenciam a ideia da imperfeição, em contraste com a pureza do branco.
O projeto traz uma lógica de ocupação onde se buscou o impacto físico e emocional através do entendimento das escalas, da leveza de fluxo e do contraste entre tempos e materialidade. Um espaço calmo, silencioso, inovador, capaz de transformar a vivência diária com qualidade e bem-estar, agregando valor na produção intelectual.
O Enjoei, uma empresa corajosa e cheia de frescor, se encontra com a qualidade arquitetônica, a solidez icônica e a diversidade do Copan. Essas características se misturam e se fortalecem, com olhar para a cidade e para o futuro.