O Museu Abílio Barreto (MHAB) – museu histórico da cidade de Belo Horizonte – completou 80 anos em 2023. Para comemorar a data, foi inaugurada a exposição de longa duração “Belo Horizonte Fora dos Planos” cujo projeto musegráfico é de autoria da Gema.
Com esse título sugestivo, a história de BH é contada a partir de outro ponto de vista, diferente do que costuma ser revelado. A partir dessa premissa, nosso projeto de expografia também subverte a forma de ocupar a grande galeria do museu, invertendo entrada e saída, mantendo as paredes mais livres e o acervo concentrado em grandes expositores ao longo do percurso.
Os setores não têm barreiras físicas, as cores são a única forma de identificação de cada tema. A paleta de cores para os quatro setores – soterramentos, persistências, cidade como obra coletiva e cidade vivida – varia dos tons terrosos para os amarelos, sugerindo um movimento de revelação do que estava escondido à medida que a mostra se desenvolve.
A exposição inicia-se com o tema do soterramento da vida do arraial anterior à construção da capital, seguido das demolições precoces na mesma capital recém-inaugurada. O principal expositor deste setor é formado por uma grande caixa de entulho que acomoda o acervo que já pertenceu justamente aos edifícios demolidos.
Na sequência, são destacadas as formas de vida que resistiram e se reinventaram, não apenas pessoas, mas também elementos naturais. É o setor das persistências, situado na única área da galeria onde o pé direito é rebaixado e as paredes são pintadas em marrom, o que garante uma ambientação mais tensa, evidenciando as condições desfavoráveis da periferia retratada.
Passando da metade da exposição, um grande plano de espelhos reflete a silhueta dos visitantes enquanto os mesmos circulam entre quadros suspensos de retratos diversos de personalidades integrantes da cidade. A intenção é permitir às pessoas a percepção de que também são atores desta obra coletiva.
O último setor desenvolve-se próximo às portas de vidro da galeria que recebem luz natural e permitem a vista para o jardim do Museu e para a cidade “real”. Projetamos um biombo translúcido que permite a passagem da luz mas limita a área entre o acervo e os vasos de planta introduzidos pela primeira vez na grande galeria.
A exposição é um convite a refletir sobre a formação da capital mineira para além da cidade planejada, uma obra coletiva, que não para de mudar até os nossos dias atuais. O percurso termina com uma cabine intitulada como “capsula do tempo”, onde o visitante é convidado a deixar seus anseios e expectativas na construção do futuro do Museu e, por extensão, da própria cidade.